martes, 30 de septiembre de 2008

GRACILIANO RAMOS




Graciliano Ramos


"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei,ainda nos podemos mexer"






Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das suas que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura". Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contacto com as primeiras letras.Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.Em 1905 vai para Maceió, onde freqüenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques Barbosa. Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o "Echo" deixa de circular. Graciliano publica na revista carioca "O Malho" sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o pseudônimo de Almeida Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares de Almeida Cunha e Lambda, este usado em trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com "O Malho", usando alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.Em 1910, responde a inquérito literário movido pelo Jornal de Alagoas, de Maceió. Em outubro, muda-se para Palmeira dos Índios, onde passa a residir.Passa a colaborar com o "Correio de Maceió", em 1911, sob o pseudônimo de Soares Lobato.Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro (RJ) no vapor Itassuoê. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha como revisor de provas tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século". Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde trabalha como jornalista e comerciante. Casa-se com Maria Augusta Ramos.Sua esposa falece em 1920, deixando quatro filhos menores.Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Ao escrever o seu primeiro relatório ao governador Álvaro Paes, “um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, a verve do escritor se revela ao abordar assuntos rotineiros de uma administração municipal. No ano seguinte, 1930, volta o então prefeito Graciliano Ramos com um novo relatório ao governador que, ainda em nossos dias, não se pode ler sem um sorriso nos lábios, tal a forma sui generis em que é apresentado. Dois anos depois, renuncia ao cargo de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se com Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo. O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925. No ano seguinte, publica "São Bernardo". Falece seu pai, em Palmeira dos Índios.Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Seu livro "Angústia" é lançado no mês de agosto daquele ano. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio "Lima Barreto", concedido pela "Revista Acadêmica".Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em maio, a "Revista Acadêmica" dedica-lhe uma edição especial, de número 27 - ano III, com treze artigos sobre o autor. Recebe o prêmio "Literatura Infantil", do Ministério da Educação", com "A terra dos meninos pelados."Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de Janeiro.Em 1940, freqüenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia política. Traduz "Memórias de um negro", do americano Booker T. Washington, publicado pela Editora Nacional, S. Paulo.Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de Janeiro.Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo a seus 50 anos. O romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo. Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios.Lança, em 1944, o livro de literatura infantil "Histórias de Alexandre". Seu livro "Angústia" é publicado no Uruguai.Filia-se ao Partido Comunista, em 1945, ano em que são lançados "Dois dedos" e o livro de memórias "Infância". O escritor Antônio Cândido publica, nessa época, uma série de cinco artigos sobre a obra de Graciliano no jornal "Diário de São Paulo", que o autor responde por carta. Esse material transformou-se no livro "Ficção e Confissão".Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três capítulos de "Vidas secas" e quatro capítulos de "Infância". Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.Traduz, em 1950, o famoso romance "A Peste", de Albert Camus, cujo lançamento se dá nesse mesmo ano pela José Olympio.Em 1951, elege-se presidente da Associação Brasileira de Escritores, tendo sido reeleito em 1962. O livro "Sete histórias verdadeiras", extraídas do livro "Histórias de Alexandre", é publicado.Em abril de 1952, viaja em companhia de sua segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, à Tcheco-Eslováquia e Rússia, onde teve alguns de seus romances traduzidos. Visita, também, a França e Portugal. Ao retornar, em 16 de junho, já enfermo, decide ir a Buenos Aires, Argentina, onde se submete a tratamento de pulmão, em setembro daquele ano. É operado, mas os médicos não lhe dão muito tempo de vida. A passagem de seus sessenta anos é lembrada em sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em sessão presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras. Sobre sua obra e sua personalidade falaram Jorge Amado, Peregrino Júnior, Miécio Tati, Heraldo Bruno, José Lins do Rego e outros. Em seu nome, falou sua filha Clara Ramos.No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vitimado pelo câncer, no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o capítulo final.Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e "Alexandre e outros heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.Seus livros "São Bernardo" e "Insônia" são publicados em Portugal, em 1957 e 1962, respectivamente. O livro "Vidas secas" recebe o prêmio "Fundação William Faulkner", na Virginia, USA.Em 1963, o 10º aniversário da morte de Mestre Graça, como era chamado pelos amigos, é lembrado com as exposições "Retrospectiva das Obras de Graciliano Ramos", em Curitiba (PR), e "Exposição Graciliano Ramos", realizada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.Em 1965, seu romance "Caetés" é publicado em Portugal.Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do cárcere" são adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. O filme "Vidas secas" obtem os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad de Valladolid" (Espanha). Leon Hirszman dirige "São Bernardo", em 1980.Em 1970, "Memórias do cárcere" é publicado em Portugal.
Bibliografia:
- Caetés - romance- São Bernardo - romance- Angústia - romance- Vidas secas - romance- Infância - memórias- Dois dedos - contos- Insônia - contos- Memórias do cárcere - memórias- Viagem - impressões sobre a Tcheco-Eslováquia e a URSS.- Linhas tortas - crônicas- Viventes das Alagoas - crônicas- Alexandre e outros irmãos (Histórias de Alexandre, A terra dos meninos pelados e Pequena história da República).- Cartas - correspondência pessoal.
Dados extraídos de livros do autor, internet e caderno "Mais!", da Folha de São Paulo, edição de 09/03/2003.




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lunes, 22 de septiembre de 2008

Orquesta Sinfónica presentará concierto “Jobim Sinfónico”


El próximo 23 de septiembre en el Teatro Nacional de Santo Domingo la Orquesta Sinfónica interpretará el concierto “Jobim Sinfónico” bajo la dirección del director brasileño Luis Gustavo Petri.El concierto se iniciará a las 8.30 de la noche y las boletas pueden adquirirse en la Fundación Sinfónica (tel 809 532 6600) o en la boletería del Teatro Nacional (809 687 3191 ext. 239 y 241).Antonio Carlos Jobim, compositor en el que está inspirado el concierto, es autor e intérprete de los más grandes y reconocidos éxitos de la música brasileña de todos los tiempos, entre los que se encuentran las piezas “Garota de Ipanema”, “Corcovado”, “Felicidade”, “Ague de beber”, “Insensatez”, “Samba de uma nota”, “Meditacao”, “Desafinado”, “Dindi”, Aguas de marco”, entre otras.

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Fuente: http://www.elcaribecdn.com/articulo_multimedios.aspx?id=182923&guid=7F41B10C0DF3459783E967C9CF6E3445&Seccion=63

miércoles, 17 de septiembre de 2008

TOM JOBIM








JOBIM SINFONICO - GABRIELA

Teatro Municipal: JOBIM SINFONICO


Más vuelos unen a Dominicana con Brasil



Después del exitoso charter de julio, la más grande tour operadora de Brasil ampliará oferta de fletamentos.
Santo Domingo, 8 de septiembre 2008.- La tour operadora CVC, la más grande de Brasil, tendrá dos nuevos vuelos charter semanales desde el gigante sudamericano hasta Punta Cana, entre diciembre de 2008 y los primeros meses de 2009. Después del exitoso charter del pasado julio, la operadora va a seguir con sus inversiones para el destino caribeño.





El director comercial internacional de CVC, Michael Barkoczy, informó de esta noticia a la directora de la Oficina de Promoción Turística (OPT) de República Dominicana en Brasil, Andréa Majela, y anunció que pretende viajar durante este mes hacia el país para conocer al nuevo secretario de Turismo, Francisco Javier García, además de continuar las acciones de promoción del charter.


“Con los fletes de CVC vamos ampliar la oferta de vuelos en la alta temporada y, sin duda, tendremos un flujo continuo y frecuente de brasileros para República Dominicana. Nuestro objetivo es que los brasileros disfruten y vuelvan muchas otras veces a República Dominicana”, señaló la directora de la OPT Brasil, Andréa Majela.
Los dos nuevos charters comenzarán a llegar en diciembre, siendo el primero el día 13, con la ruta Río de Janeiro-São Paulo-Manaus-Punta Cana. La segunda salida será el 20 de diciembre, desde São Paulo hasta Punta Cana, con escala en Manaus. Los vuelos serán operados en aeronave A-320 de la línea aérea TAM con 169 asientos en la clase económica.
En los cinco fletamentos de CVC hasta Punta Cana, ocurridos en todo el mes de julio y en la primera semana de agosto, 1, 005 brasileros viajaron para conocer las paradisíacas playas de la costa Este de República Dominicana. El fletamento fue realizado en aeronaves 767-300 de la línea aérea TAM. Con vuelo directo, los turistas brasileros ahorran aproximadamente cuatro horas.
En 2007, República Dominicana recibió 12.437 turistas brasileros y para 2008 el objetivo es que 18 mil visitantes brasileros conozcan el destino. En total, República Dominicana recibió el año pasado 4, 428,005 turistas.

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Fuente: http://www.diariodigital.com.do/articulo,32779,html







jueves, 11 de septiembre de 2008

UMA CONVERSA COM O CURADOR DA 8ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ - FLORIANO MARTINS

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LIRA NETO
A mestiçagem será o tema central da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará. 'Nossa cultura é mestiça em sua essência. É exatamente para isto que estamos chamando a atenção, para um melhor conhecimento, aceitação e integração de nossas raízes', diz o escritor Floriano Martins, que responde pela curadoria do evento, que será realizado de 12 a21 de novembro, em Fortaleza. Antes de aceitar o desafio de ser curador da Bienal cearense, Floriano fez questão de saber se teria carta branca para poder alterar rotas e ajustar formatos que julga esgotados em relação a outras feiras do livro país afora. O próprio conceito de 'feira' está sendo reavaliado e posto em questão. 'Acho que há um desequilíbrio nas razões culturais e de mercado que atuam em eventos desta natureza', argumenta. Garantida a desejada autonomia para proceder a uma reformulação conceitual da Bienal, Floriano faz uma aposta ousada: em vez de privilegiar nomes midiáticos para compor a lista de palestrantes e de autores convidados para as costumeiras sessões de autógrafos, dará preferência a mesas redondas e iniciativas que privilegiem, sobretudo, o exercício da reflexão. 'Trata-se de equilibrar as relações entre cultura e mercado. Evidente que não se quer dar importância menor ao setor comercial, muito menos à circulação de um grande público. O que nos cabe acrescentar é a necessidade de maiores qualificação e diversidade daquilo que se vai ofertar ao público, bem como das perspectivas de negócios', pondera. A programação, que conta com um bom número de autores e produtores culturais de diversos países da América Latina, evidencia que será dado amplo destaque ao diálogo entre duas comunidades lingüísticas: a de língua portuguesa e a hispânica. 'É indispensável ousar, de maneira a apresentar soluções para uma política cultural consistente', resume Floriano. A seguir, os melhores momentos de uma conversa, por e-mail, com o curador da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará:
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Lira Neto - As feiras do livro, país afora, têm se transformado na verdade em grandes saldões, nos quais livreiros e principalmente distribuidores aproveitam a oportunidade para desovar estoques e encalhes a preços de ocasião. Em que medida a Bienal do Ceará pretende se diferenciar desse modelo viciado, que já dá sinais visíveis de esgotamento?

Floriano Martins - Começamos aqui a tratar da Bienal por sua área comercial, embora o esgotamento a que te referes esteja, para mim, mais na sua outra área, geralmente identificada como a das sessões literárias. De qualquer maneira, penso que o grande dilema da área comercial está em sua ausência de organização, no estabelecimento - e cumprimento - de regras mínimas de organização que sejam redigidas contratualmente em nome da totalidade do projeto Bienal e não para atender a casos particulares. Houve já uma conversa entre Curadoria, Sindilivros e RPS Eventos. Todas as editoras e livrarias inscritas assinaram um contrato onde consta um novo conjunto de regras de organização que recupera a qualificação do setor de vendas, regras que tratam da arrumação ambiental dos estandes, da utilização de aparelhos de som, dos balcões de saldos, dos limites de venda sobre produtos que não sejam livros (material de papelaria, brinquedos etc.). Uma vez definido o mapa geral das editoras e livrarias que participarão do evento, pretende-se ainda ter com todas elas uma nova conversa, esclarecendo sobre a importância do conceito atual e propondo uma maior integração ao mesmo.
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Lira Neto - Você sugere, no início de sua resposta à pergunta anterior, que identifica um esgotamento também nas sessões literárias. Onde você vê os sintomas mais nítidos desse esgotamento? E quais os antídotos de que pretende lançar mão para evitá-los?

Floriano Martins - Acho que há um desequilíbrio nas razões culturais e de mercado que atuam em eventos desta natureza. Maior acento na área de mercado implica em demasiada dependência de suas cotações e exposições de mídia. Estes aspectos podem, em geral, assumir uma conotação negativa em um ambiente cultural fragilizado como o que temos hoje no Brasil. Posso ser acusado de eufemismo, porém tento aqui apenas evitar cair em seu revés, o sentido catastrófico derrotista. O fato é que é preciso evitar simplificações e reiterações temáticas na formatação das sessões literárias, inclusive qualificando o mediador das mesas de maneira a não permitir que as explanações dos convidados caiam no vazio, sem que os encontros produzam tanto um enriquecimento crítico no público quanto perspectivas de parcerias entre as partes envolvidas. Posso dar aqui dois exemplos, referentes a mesas de debate: uma delas reúne diretores dos mais atuantes Centros de Estudos Brasileiros existentes na América Hispânica, o que nos permitirá uma avaliação do comportamento do Itamaraty e sua política cultural no tocante à integração continental; uma outra mesa, com dupla jornada, reúne algumas das principais editoras universitárias do país, ocasião em que evocará aspectos como planejamento editorial e distribuição. As próprias sessões de leitura de poemas serão mais abrangentes, permitindo aos poetas comentarem sobre sua poesia e responder a perguntas do mediador e do público. Enfim, trata-se de dar mais substância ao evento.
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Lira Neto - Como avalia o formato que tem sido levado a efeito pela organização da feira do livro de Parati, a Flip? Parece-me que eles buscam exatamente fugir do esquema tradicional e sonolento das tardes de autógrafos das bienais, estabelecendo-se como uma verdadeira festa literária ao ar livre - em que as atrações naturais e a arquitetura histórica da cidade são elementos de atração para o público - mas sem esquecer o lado da reflexão e da discussão de idéias. O que este modelo tem a nos dizer, quando pensamos em uma bienal do livro realizada em um estado solar como o Ceará? Seria ingenuidade demais supor que um evento desse tipo, desde que planejado convenientemente, poderia vir a contribuir também, de alguma forma, para a qualificação do turismo regional?

Floriano Martins - Talvez haja no tema mais de armadilha do que propriamente de solução consistente. Se acaso tivéssemos um planejamento educacional em curso - refiro-me em termos federais -, neste caso seria salutar contar com a adesão de uma agenda turística. Como é outro o cenário, a solução passa a ser um artifício que interessa mais ao imediatismo de mercado do que propriamente à cultura. É quando menos uma solução fácil e temporária. Evidente que caberia aproveitar melhor a condição solar do Ceará, e neste caso seria uma fortuna poder contar com ações integradas das áreas de Educação, Cultura e Turismo. Soa quase como um milagre, porém um milagre que nos traria um bem imenso. Recentemente eu estive em Sidney e fiquei impressionado como um ousado planejamento urbanístico pode trazer benefícios sólidos para uma comunidade.
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Lira Neto - Para o leitor que quer garimpar nas bienais, os estandes das editoras universitárias e internacionais reservam sempre boas surpresas. Contudo, quase sempre, é relegado a elas um espaço quase marginal nas feiras do gênero. Há algum plano específico para valorizar essas editoras?

Floriano Martins - Na área das sessões literárias, como recordei há pouco, foi criada uma série de mesas de debates envolvendo editores universitários de vários estados brasileiros. No caso das editoras internacionais, foi estabelecida uma área de 234m² dedicada a um conjunto de editoras dos países hispano-americanos. Estas editoras participarão pela primeira vez de uma feira no Brasil, e aqui estarão reunidas através de acordos que estamos definindo com suas entidades de classe (redes, alianças, câmaras setoriais etc.). Muitos dos editores também participarão de mesas de debate sobre mercado editorial na América Latina. Evidente que também teremos aqui editoras de Espanha e Portugal, através de seus representantes legais, como já é feito habitualmente.
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Lira Neto - A nova edição da bienal cearense movimenta-se em torno de um grande eixo, o da mestiçagem. Não há o risco de um evento monotemático, que deixe de contemplar outros campos de interesse mais amplo do público leitor e dos visitantes?

Floriano Martins - Mas é monotemático apenas tecnicamente. Afinal, nossa cultura é mestiça em sua essência. É exatamente para isto que estamos chamando a atenção, para um melhor conhecimento, aceitação e integração de nossas raízes. Trata-se de uma concentração que permite uma expansão em larga escala. Criar condições para um diálogo entre as culturas de língua portuguesa e espanhola, culturas espalhadas por quatro continentes, é exatamente uma forma de evitar políticas discricionárias dessas culturas, de evocar a diversidade com consistência, de sugerir novos mecanismos de tratamento com a produção do livro etc. Ao contrário do que temes, público leitor e visitantes encontrarão um leque mais amplo de oferta, tanto no que diz respeito aos livros expostos quanto à presença de temas e autores em contato direto com eles.
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Lira Neto - No ano passado houve um encontro preparatório ao evento, que teve como objetivo estabelecer a agenda geral da Bienal. Quais as grandes conclusões e quais os rumos decididos naquele encontro prévio?

Floriano Martins - Tão logo foi aceito o projeto apresentado pela curadoria à Secretaria da Cultura, tratei de eleger um convidado em cada um dos 30 países envolvidos, no sentido de obter informações precisas sobre autores, instituições, perspectivas de parcerias etc. Tínhamos então em mente a idéia de realizar uma série de eventos preparatórios, reunindo em cada um deles sete ou oito desses parceiros eleitos. A primeira edição trouxe a Fortaleza produtores culturais de Chile, Colômbia, México, Peru, República Dominicana e Venezuela. Todos os convidados contavam em seu currículo com experiências de curadorias de feiras e encontros internacionais de escritores, em seus respectivos países. Ali comentamos sobre as estratégias necessárias para um diálogo entre nossas culturas que não fosse mais tangencial ou retórico. Então definimos a abrangência conceitual da Bienal do Ceará e sua estrutura, aspectos que foram sendo realçados, enriquecidos, na medida em que fomos conversando - através de correio eletrônico - com os parceiros de outros países que não puderam estar conosco fisicamente e com instituições brasileiras (sobretudo instituições ligadas ao Governo do Estado do Ceará). Este primeiro e único encontro foi o suficiente para definir toda uma política cultural que se caracteriza por uma abertura não somente em seu eixo temático, mas também em sua maneira de legitimar parceiros que possam contribuir para o engrandecimento do evento.
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Lira Neto - O material de divulgação do evento, já distribuído à imprensa, menciona a existência de um 'pavilhão especial', dedicado a Cuba e Venezuela. Qual o sentido dessa iniciativa? Não estaremos diante de uma politização explícita de um evento eminentemente público?

Floriano Martins - Em geral, feiras de livros costumam eleger um país como homenageado. O Brasil mesmo já foi convidado em tal condição por alguns eventos internacionais, e aqui antecipo que será o país convidado da Feira do Livro da República Dominicana, a se realizar em maio de 2009. Jamais se considera como - politização explícita - um convite dessa natureza, sendo ou não. O que há de visível no que estamos fazendo é que passamos a tratar por - pavilhão especial - o que costumeiramente se chama - país convidado -, e que em nosso caso escolhemos dois países e não apenas um. Isto além do vício ideológico que limita a compreensão que temos a respeito desses dois países. Contudo, pensemos no que não está visível: Cuba e Venezuela possuem destacada importância em termos de integração cultural na América Latina, especialmente na área do livro. Há 50 anos surgiu em Cuba a Fundação Casa das Américas, seguida 10 anos depois pela venezuelana Monte Ávila Editores. Também na Venezuela é fundamental o trabalho realizado pela Fundação Biblioteca Ayacucho, sem falar na criação recente da Fundação Editorial El Perro y La Rana. São aspectos relevantes que necessitam ser reconhecidos internacionalmente e, mais do que isto, que necessitam de ampla discussão, para que assim possamos redefinir perspectivas do mercado editorial em todo o continente. Que haja implicações políticas nisto tudo, não resta dúvida. Este será um bom momento para discutir as políticas relacionadas ao livro e à leitura no Brasil, por exemplo, ou seja, como a nossa democracia tem enfrentado este tema.
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Lira Neto - Pelo que se lê também no material de divulgação, a Bienal do Ceará pretende romper com outro hábito arraigado nas demais feiras espalhadas pelo país. Irá valorizar a discussão, a cultura e a reflexão, em detrimento das costumeiras tardes e noites de autógrafos com autores midiáticos e geradores de grande público. É, sem dúvida, uma opção ousada. Houve, até agora, alguma reação manifesta em relação ao novo formato?

Floriano Martins - Trata-se, como já frisei, de equilibrar as relações entre cultura e mercado. Evidente que não se quer dar importância menor ao setor comercial, muito menos à circulação de um grande público. O que nos cabe acrescentar é a necessidade de maiores qualificação e diversidade daquilo que se vai ofertar ao público, bem como das perspectivas de negócios. Trata-se de uma ousadia, sabemos, porém pode alcançar um efeito imenso se contarmos com o empenho de todos os parceiros - sobretudo, neste caso, a própria mídia - na definição de uma escala maior de abrangência e renovação deste evento maior do Estado do Ceará. É preciso ousar, e a Bienal em si é já um projeto consistente, que existe há 16 anos, ou seja, que naturalmente permite - e até mesmo exige de todos nós que a fazemos - um avanço, uma inovação. Eventuais reações manifestas em relação ao formato atual serão recebidas como parte valiosa de um processo de renovação. Até o momento, no entanto, temos recebido uma completa e declarada simpatia de todos os parceiros envolvidos.
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Lira Neto - Nesse caso, qual o critério que será estabelecido para o convite de autores estrangeiros? Serão privilegiados os grandes nomes da literatura americana de língua hispânica ou, ao contrário, dar-se-á preferência a autores não tão conhecidos assim do público brasileiro? Se é que nós, leitores brasileiros, podemos dizer que conhecemos algo dela?

Floriano Martins - Tua pergunta já traz consigo a resposta. A única literatura hispano-americana que conhecemos é aquela que se internacionalizou via mercado editorial europeu ou estadunidense. Nosso critério será, antes de tudo, o de criar uma rede atuante de referências literárias envolvendo todos os países. Buscamos nomes expressivos do ponto de vista estético e que ao mesmo tempo sejam influentes produtores culturais, estejam à frente da direção de revistas ou de quaisquer outros projetos editoriais, incluindo traduções, ensaios etc. Buscamos assim desenhar uma agenda com desdobramentos, que não se defina unicamente por uma festa em isolado. Claro que estamos cientes dos riscos, pelo quase total desconhecimento desses autores da parte do público, porém o desafio é fascinante e requer uma atenção maior quanto ao plano de difusão da Bienal.
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Lira Neto - Qual o papel que caberá à revista Mestiça, a ser lançada durante o evento? Qual a linha editorial desta publicação? Será um número isolado ou há a possibilidade de se pensar em uma periodicidade para ela?

Floriano Martins - A revista Mestiça encontra-se em fase de definição estrutural e formação de equipe. Foi originalmente pensada para ser uma publicação de circulação quadrimestral, com distribuição gratuita, que funcione como veículo informativo não apenas da Bienal em si (em suas atual e futuras edições), como também de toda uma política do Estado do Ceará ligada ao livro e à leitura, abrangendo ainda os diálogos com eventos similares em outros lugares do país e no exterior. Informativa e reflexiva, cabendo ainda em sua pauta recuperar e destacar aspectos relevantes de nossa cultura.
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Lira Neto - Anuncia-se também a criação da 'Coleção Biblioteca Bolivariana', cujo nome de batismo já embute uma orientação explícita de natureza política e ideológica. Há títulos definidos? Quais os critérios de escolha?

Floriano Martins - Novamente o ardil de natureza política e ideológica. O nome foi pensado como uma espécie de reconhecimento ao trabalho de mapeamento cultural latino-americano desempenhado, na Venezuela, pela Fundação Biblioteca Ayacucho. E encontra na figura de Simon Bolívar um ícone ideal na representação de esforços por uma integração continental. A pauta editorial primará por títulos que correspondam a esta perspectiva, autores que tenham escrito sobre origens, integração, mestiçagem, ao lado de um conjunto de obras que permitam uma aproximação do leitor brasileiro da produção intelectual e literária da América Hispânica. E naturalmente a recuperação de acervo literário cearense. Há um planejamento editorial de lançar 10 primeiros títulos na Bienal, em novembro. Dentre os autores encontram-se o argentino Juan Gelman, o nicaragüense Pablo Antonio Cuadra e o brasileiro Thomaz Pompeu Sobrinho. Em boa parte são obras coligidas, acompanhadas de estudos críticos. O que não impede a publicação de títulos independentes.
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Lira Neto - A maior parte dos visitantes das feiras dos livros são crianças, que quase sempre chegam em grandes caravanas escolares. Isso é sempre bastante louvável, já que a Bienal funciona também como uma formadora de potenciais leitores do futuro. Contudo, nem sempre as visitas desses estudantes são feitas de forma organizada e devidamente orientada, o que gera mais congestionamentos nos corredores do que propriamente um contato efetivo das crianças com o mundo dos livros. Não seria a hora de avaliar esta questão?

Floriano Martins - Retomamos o tema da desorganização. Não vou minimizar o problema, porém não se pode fugir da necessidade de estabelecer uma agenda de visitação que seja cumprida com rigor. Ao mesmo tempo, há que se compreender que é insuficiente tal iniciativa, que exige um cuidado prévio que envolve contatos com setores do ensino público e privado, a elaboração de uma cartilha a ser distribuída nas escolas etc. Há todo um trabalho preparatório que demanda empenho e atenção. Temos um setor da curadoria cuidando especialmente disto.
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Lira Neto - É curioso notar que Chico Anysio, mais conhecido por sua atuação na televisão, seja o grande homenageado do evento. Recentemente, em entrevista, ele próprio afirmou que gostaria de ser mais valorizado pelo escritor que, de fato, também é?

Floriano Martins - Chico Anysio é um desses casos típicos nacionais. Livros como O batizado da vaca (1972), O enterro do anão (1973), A borboleta cinzenta (1985), Feijoada no Copa (1987) e O tocador de tuba (1990) jamais foram devidamente avaliados como a notável contribuição à narrativa brasileira que efetivamente são. Porém o público o recebeu sempre muito bem, pois em grande parte sua bibliografia alcançou grande vendagem. Mesmo que fosse apenas um criador de tipos para o teatro e a televisão, ainda assim seu universo é o da literatura, seja como dramaturgo ou roteirista. É essencialmente um escritor, além de ator fabuloso. Sob todos os aspectos, merece nosso declarado reconhecimento como um dos mais expressivos nomes ligados à arte e à cultura no Ceará em todos os tempos. O curioso é que não tenha sido até aqui declarado motivo de orgulho nosso, como sempre deveria ter sido.
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Lira Neto - Pelo que se depreende do conjunto de suas respostas, teremos uma bienal diferente de todas as outras já realizadas no Ceará. Você espera que os resultados dela sejam visíveis e politicamente animadores a curto prazo, para que não se caia na tentação e no risco de se buscar de novo o caminho do mais fácil e da mesmice?

Floriano Martins - Esperar é insuficiente. A rigor, se considerarmos o cenário do que se poderia chamar de políticas culturais no Brasil, este é absolutamente desalentador. Não me cabe a ingenuidade - aqui sim - de acreditar que tal situação possa mudar a partir de um evento em isolado. Esta nova configuração que vem sendo dada à Bienal Internacional do Livro do Ceará se trata de uma grande ousadia que, ao mesmo tempo, reconhece os riscos de vir a cair no vazio. De qualquer maneira, é preciso fazê-lo, enfim, é indispensável ousar, de maneira a apresentar soluções para uma política cultural consistente.
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miércoles, 10 de septiembre de 2008

FLORIANO MARTINS


Floriano Martins


Nasceu em Fortaleza em 1957. Poeta, ensaísta e tradutor. Publicou alguns livros de poesia, entre os quais: O amor pelas palavras (Edições Trote, Rio de Janeiro, 1982) e Tumultúmulos (Mundo Manual Edições, Rio de Janeiro, 1994). Em 1994, a editora inglesa Dedalus incluiu a íntegra de seu livro Cinzas do sol (1991) no vol. 2 de The myth of the world. Prepara a edição de Alma em chamas (Poesia reunida), a ser lançada em setembro deste ano pela Letra & Música. Ensaísta, participou de edições comemorativas da obra de importantes poetas latino-americanos. Publicou na Espanha um livro de entrevistas a poetas brasileiros, El corazón del infinito (Editorial Calandrajas, Toledo, 1993), assim como o recente Escritura Conquistada (Diálogos com Poetas Latino-americanos).
Tem uma importante atuação na área jornalística, graças à publicação de inúmeros textos (ensaios, artigos, entrevistas, tradução), em jornais e revistas no Brasil e no exterior, em países como Espanha, Portugal, Colômbia, México, Venezuela e Costa Rica. É correspondente brasileiro das revistas Blanco Móvil (México) — para a qual organizou este ano uma edição dedicada à literatura brasileira —, Babel (Venezuela) e International Graphiti (Costa Rica), além de integrar o conselho editorial da revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional (RJ).
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Visitem o site da “Agulha – Revista de Cultura”, que publica textos em português e espanhol e é editada e produzida por Floriano Martins e Claudio Willer.
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A FRASE DA SEMANA é uma homenagem da Poeta Cristiane Grando ao grande Poeta Floriano Martins.